Monday, January 9, 2012

Títulos estúpidos: "Voltámos ao tempo das trocas sem dinheiro"



Anuncia o Público que "Voltámos ao tempo das trocas sem dinheiro". Que ideia estúpida, pensei eu. Como é que alguém pensa criar uma forma eficiente de fazer trocas sem utilizar alguma forma de moeda?

A, resposta, pelos vistos... é usar uma forma de Moeda:



Criada em 2010, a Rede Barter cria, promove e gere a realização de transacções entre empresas através de permutas. Para isso, foi criada uma moeda virtual, em que um euro corresponde a um crédito.Ao contrário do comércio recíproco, em que as trocas são apenas directas, aqui são multilaterais. Isto significa que uma empresa não tem de trocar directamente o bem ou serviço que tem por aquele de que necessita. Em vez disso, cada empresa tem uma conta individual e disponibiliza aquilo que quer "vender" em rede. Um restaurante pode precisar de serviços de impressão (para menus, por exemplo) no valor de 10 mil euros, mas é pouco provável que uma gráfica precise de 10 mil euros em comida, que é o que o restaurante pode oferecer. Com a Rede Barter, não há esse problema: o restaurante fica a dever 10 mil euros à rede, não à gráfica.

Recordo, para quem não tenha presente, a mais simples definição de Moeda:

Moeda é tudo aquilo que pode ser utilizado como meio de pagamento. [fonte]

Se quisermos complicar um bocado:

Instrumento que exerce as funções de meio de pagamento, medida de valor e meio de reserva. [fonte]

Ora, os créditos são coisas que servem de meio de pagamento (dentro da rede), como medida de valor (uma vez que o custo dos serviços terá de ser convertido em créditos, criando assim comparabilidade entre os vários serviços), e meio de reserva (uma vez que os créditos podem ser usados numa altura posterior ao fornecimento do serviço). Então por que é se chama a isto "trocas sem dinheiro"?


Nota: não acho o negócio estúpido. Acho-o interessante enquanto forma de financiamento de pequenas empresas. O que eu acho estúpido é o foco na questão semântica de não chamar "dinheiro" a uma coisa que é basicamente dinheiro.
Aliás, o ponto interessante do negócio seria perceber como é que a rede lida com o risco de falência dos seus participantes (o que acontece quando uma empresa que está a dever à rede desaparece? Não se poderá criar uma situação em que há muitos consumidores mas poucos produtores?)

Infelizmente, essas questões realmente interessantes não são discutidas...

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